terça-feira

sylvia

sylvia, que com a água te vais, amor meu... [e os pássaros cantam, suavizando o dia e o cenário que envolve a tua campa, alegrando as nossas almas - não dissemos ser só uma?]

e para quê flores a enfeitá-la, se não há nada mais horroroso que a tua morte, minha Pandora, origem de todo o mal? para quê alegrar algo tão cinzento?

lembras-te do dia em que te conheci, Perséfone?, dentro da barriga da baleia? e dançámos no mesmo elemento que te levou, branca e delgada, com flores no cabelo e pedras no regaço, jazente da vida que te roubei com estas mãos frias e calejadas...

minha ophelia! oh, doce ophelia, louca com a minha loucura, como outra ophelia foi um dia...

e aqui estou, na tua campa, enfeitada de flores para suavizar a morte. não, não haverão cores a enfeitar o teu cadáver, um amontoado de carne podre que desaparece alguns palmos profundo aos meus pés...

não me julgues cruel, amor meu, que deixo os pássaros, na tua campa, a alegrar a tua alma.... que outras deusas diurnas esperam o meu abraço...



[Marissa Nadler, Bird on your Grave]

2 comentários:

N.R. disse...

Funeral writing.

Gostei.

Xico disse...

Todos! Menos a dulce. E todos falam em ofelias diferentes!