Sentada no baloiço sentia o passar do tempo, tentando descobrir uma maneira de o travar. Loucura, infantilidade, estupidez, diriam. “O tempo é como o rio”, não volta atrás, diziam todos os poetas. Oh, se pudesse…
Tinha ainda o branco e leve vestido de vermelho manchado e o orgulho e a honra manchadas pelo consumado pecado.
Como o desejara ardentemente e como agora, no silêncio da noite, apenas pela Lua Cheia iluminada, sua alma agonizava, enquanto sentia o passar do tempo.
Uma sombra aproximava-se lentamente, qual Apolo ou Baco satírico. Acariciava-lhe ternamente o cabelo e ela, com os olhos fechados, sentia o passar do tempo.
Nisto, a dor intensifica-se, já as lágrimas lhe humedecem o rosto ruborizado de menina que já não é.
As mãos com força agarram a corda, enquanto alheios braços lhe cintura e a puxam, de encontro a um corpo que só lhe causa asco. Sente um beijo na testa, outro nos lábios e um sorriso de felicidade numa boca que não é a sua. Ouve juras de amor, promessas de futuro… Não, não aguenta mais, agora não são as faces que se encontram encarnadas, são os olhos, os olhos que flamejam, libertando um ódio ancestral.
Dá-se um beijo na escuridão, um beijo faminto, desesperado. E nisto já um grito de ouve, um grito de dor, de sangue derramado. Observa-o levar as mãos à boca, com o intuito de estancar a hemorragia: tem nos olhos uma expressão de terror, porventura apercebeu-se de que não se encontra na presença da criatura tão grandiosamente amada, mas de um outro ser, um ser que o terrifica e hipnotiza….
Ouvem-se vários gritos no calor mágico da noite.
Acorda. Sente na boca um estranho gosto, as unhas sujas e cheias de carne humana e o vestido, outrora branco, ganhou um tom escarlate. Ao seu lado, o que parecem ser os restos de um cadáver desfigurado, um indivíduo adulto do sexo masculino, com o peito aberto, expondo o tórax, o coração em falta e vísceras espalhadas pelo exterior do agora jazente corpo.
Olha-o com ternura, a ternura com que se olha um amante após a primeira noite. Impossível, pensaríamos nós: estas faces pálidas, que sentem a aragem matinal, que este casto e doce olhar que deita ao cadáver enquanto se levanta e se afasta pertencem ao mais puro e virginal dos seres.
Around the one i love
Há 12 anos
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