sábado

Eros e Psyque

E vejo-te nua e suada em cima da cama, casta na tua pouca-vergonha de Vénus amada, enquanto o suor que o amor te deixou deixa devagar o teu delgado corpo. Delgado como o de uma adolescente, que domino todas as noites e todas as manhãs que adormecemos e acordamos, nus e enlaçados, a um ponto em que não se distingue quando começas tu e acabo eu, mesmo não estando eu dentro de ti. E talvez nem exista o fim de um e o início do outro, de tão sepultado em ti que estou, talvez já sejamos a mesma pessoa, e não seja o teu odor que se entranha em mim e me sufoca prazerosamente mas simplesmente o meu odor que já é o teu, ou vice-versa, e eu seja um narciso dependente de mim mesmo, viciado em mim mesmo, nesta masturbação que envolve dois corpos mas só uma pessoa.
Moves-te, lentamente, nessa malícia de menina preguiçosa que no fundo és. Ou talvez sejas já uma mulher e seja eu que estou demasiado velho para o notar. Voltando a ti – não volto sempre? -, aí estás, alva e delicada, criança caprichosa que me domina, que me devora a alma que não tenho.
Beijo-te o pé, a púbis, a testa, senhora, amante e criança que és. Não, não és apenas o divertimento de um homem velho, apesar de tu mesma o julgares. Não me fazes sentir mais novo, pelo contrário: envelheces-me quatro vezes mais depressa, e tenho já 120 e não quarenta anos, como quando me conheceste - quando terá isso acontecido?

4 comentários:

N.R. disse...

Tal como te disse, esse primeiro parágrafo tem frases que eu gostava de ter escrito.

N.R. disse...

Oh meu deus, tenho uma tag só para mim no teu blog.

Sinto-me grande.

Anónimo disse...

Não li o texto, mas...comento para dizer que sou o Tiago Garcia e que agora tenho blog. Tenho saudades tuas, Vanessa.

Miguel Teixeira disse...

Sabes, às vezes dá vontade de entrar nestas tuas realidades paralelas.