sexta-feira

Venus As a Boy

Passam-se os segundos, horas, dias, como se fossem anos, décadas, séculos.
Envelheço num ritmo acelerado, como de se de uma hora para outra me transformasse numa versão mais triste e melhorada de mim mesma, mulher que um dia serei. Por enquanto, essa ágil e melancólica criatura apenas desperta com os teus beijos e toques, somente vive quando os corpos se colam e o teu se torna parte do meu, enquanto estremecemos e nos amamos e tu estás dentro de mim, filho a habitar o materno ventre.
És o meu filho primogénito, aquele que me começa a habitar quando estamos nus, a beijar-nos somente, um sobre o outro, duas crianças inconscientes ainda e que dou ao mundo quando, após fome saciada, estamos um ao lado do outro, e o nosso suor evapora, conscientes do homem que és e da mulher que sou.
Depois olho-te, qual mãe que olha um recém-nascido, nunca tão amado, e tento fixar-te o rosto, o corpo, tudo: o nariz de Octávio, os ombros largos, o pescoço forte, a barriga musculada, as pernas bem-feitas…
E depois tens aqueles momentos em que me olhas como um menino perdido, apaixonado, a contemplar o mais precioso dos tesouros e eu julgo nunca dessa maneira ter sido olhada, e iludo-me, pensando que nunca assim olhaste alguém…

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