tag:blogger.com,1999:blog-163090830022125312024-03-13T01:06:49.028+00:00Deimo & FobosTraduzindo: o Terror e o Medo. Deambulando.Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.comBlogger59125tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-16856916150556505872011-02-26T22:03:00.000+00:002011-02-26T22:04:55.625+00:00the times they are a-changin'<a href="http://thescarletempress.wordpress.com/">http://thescarletempress.wordpress.com/</a>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-17343988450280576082010-07-17T21:50:00.004+01:002010-07-17T21:54:53.124+01:00<span style="color:#ff9900;">"Que não voltes mais a recear a luz e o calor do sol", <em>"Mrs. Dalloway</em>", pág 158<br /></span><br /><span style="font-size:78%;color:#ffff66;">[entrada no meu caderno de desenhos/tudo e mais alguma coisa dia 31.07.09, ainda acompanhado pela<em> Carmensita</em>]</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-72395512041016302552010-05-24T13:51:00.000+01:002010-05-24T13:52:30.374+01:00Mãe Frida, rascunho IQue se te fragmentou, Frida?<br />Quem te quebrou a coluna com os dedos?<br />Quem te pisoteou a carne,<br />Deixando-te assim, adornada<br />Em faixas, livre de sonhos ou medos?<br /><br />Que se te fragmentou, Frida?<br />E que mão malvada te deformou<br />o rosto, Te rasgou o lábio,<br />Te rompeu o ventre?<br />Quem te desfez o corpo que o doutor não cura<br />Por muito que tente?<br /><br />Que se te fragmentou, Frida?<br />As vértebras despedaçadas e escondidas,<br />Agrupadas em ti em arcadas de ruínas?<br />O teu útero seco e mutilado<br />Que nunca carregou o teu menino,<br />Apenas serve para o pecado?<br />O fogo de vida nos teus olhos carvão?<br />Ou o peito onde um dia te bateu o coração?Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-80678625550059925082010-04-04T01:54:00.003+01:002010-04-04T02:26:04.747+01:00a queda<div align="justify">o pai tem cabelos brancos, disse o meu pequeno irmão, em tom jocoso, enquanto remexia <span id="SPELLING_ERROR_0" class="blsp-spelling-error">tiranicamente</span> na fina cabeleira de meu pai, demasiado entretido a ler o jornal matutino para lhe prestar atenção.</div><div align="justify">o pai tem cabelos brancos, gritava, com aquela voz de mulherzinha que as crianças possuem, enquanto a notícia me apunhalava o peito. o pai tem cabelos brancos, os primeiros, despontados após mais de meio século de vida. </div><div align="justify">seriam difíceis de esconder, dado o preto azulado do seu cabelo, preto azulado como os heróis de muitas histórias que a mãe me lia antes de ir dormir, heróis que tinham sempre o seu cabelo, a sua pele muito branca ou os seus olhos muito verdes, que todos os heróis eram os seus irmãos gémeos perdidos por esse mundo fora. e eu tinha o mais forte dos irmãos beijando-me a testa antes do adormecer.</div><div align="justify">o meu pai ganhou cabelos brancos e o meu mundo ruiu. senti-me mais uma vez pequenina e insegura, como no primeiro dia de escola, envergonhada em mim, comigo mesma, círculo interminável de palavras fazendo espiral para chegar ao eu. o cabelo branco que se juntou às entradas cada vez mais proeminentes e às rugas que já lhe surgem quando sorri. </div><div align="justify">caiu a última das fortalezas, o tempo venceu-me numa guerra que nunca quis.</div><div align="justify">o meu pai tem cabelos brancos. tufos deles, espreitando no meio do negro, ervas daninhas. o meu pai tem cabelos brancos. o tempo existe, venceu, aplica-se a ele, também a ele, até a ele. e só aí lhe noto o ar cansado de quase seis décadas, a fragilidade que não existia nele, um vaso tão frágil que temo falar-lhe mais alto com medo que a aragem das minhas palavras o parta.</div><div align="justify">hoje o meu pai não mudou só a cor do cabelo, tornou-se mortal, mortal como nunca o julguei. </div><div align="justify"></div><div align="justify">o meu pai já tem cabelos brancos, repito baixinho para mim, enquanto o meu <span id="SPELLING_ERROR_1" class="blsp-spelling-error">irmãozinho</span> o grita pela casa.</div><div align="justify">um dia, quando o branco se disseminar como doença pela sua <span id="SPELLING_ERROR_2" class="blsp-spelling-error">escasseante</span> cabeleira, o meu pai morrerá. assim, como se fosse outro qualquer e não o meu pai. e eu não terei quem me beije a testa antes de dormir.</div>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-17541491383327339542010-04-01T11:35:00.004+01:002010-04-01T11:51:58.837+01:00S&Jtrês vultos no chão, em plena cidade.<br />ao longe o som da á<span id="SPELLING_ERROR_0" class="blsp-spelling-error">gua</span> que sai em repuxo da fonte<br />(não, não nos vamos levantar, continuemos rindo de nada).<br />bicicletas e skates magoam-nos os ouvidos com o seu barulho, transmitido pelo solo.<br />pessoas olham. amigos gozam. que estamos deitamos, os três, de mãos dadas, sentindo o chão,<br />rindo.<br />tu, ao meu lado, tão loira, tão bonita. ele, tisnado e português.<br />quero abraçar-vos.<br />três vultos abraçando o solo e o mundo é nosso. (e dos fantasmas na nossa cabeça.)<br />os meus caracóis varrendo o chão de um mundo que ainda nos pertence, simples.<br />evoco-nos.<br />que os fantasmas vos saem pelo corpo e eu não vos posso abraçar. (no fim, não vos abracei.)<br /><br />evoco-nos, inocentes como éramos, como somos,<br />os três abraçando o solo perante olhares incrédulos, o sol de início de primavera acariciando-nos o rosto, magoando-nos os olhos.<br />os três rindo, colados ao chão.<br />tentando não cair.Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-59901421506009423422010-03-30T01:40:00.006+01:002010-03-30T01:55:51.214+01:00King of Spain, the tallest man on earthreinventa-me,<br />dá-me nome,<br />outro tom de pele,<br />outro berço.<br /><br />reinventa-me<br /><br />que hoje acordei sem me conhecer, o meu rosto fugiu-me quando me aproximei do espelho, os cabelos cairam-me de cansaço<br />de ser eu.<br />a minha pele ficou transparente, os meus olhos opacos, amanheci desenho inacabado.<br />desenha-se, traça-me delicada de ancas largas, cabelos longos, braços abertos,<br />tinge-me os lábios e os cabelos com o teu sangue,<br />renomeia-me, chama-me vida,<br />sopra-a ao meu ouvido, insufla-me dela.<br /><br />reinventa-me<br />faz-me rainha de algo<br />(coroa-me)<br />apaga-me e redesenha-me<br />que já custa ser eu.<br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">[sem intenções de poesia]</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-24173738029661955822010-03-27T00:27:00.000+00:002010-03-27T00:28:51.491+00:00the tallest man on earthJaz aos nossos pés<br />O mais alto homem da terra<br />Cobrindo o vale com o seu corpo,<br />No ar vibra ainda a sua voz,<br />O chão treme ainda dos seus passos.<br /><br />Está morto, frio<br />O mais alto homem da terra<br />Como morreu? Quem o matou?<br />Atacou-o a tuberculose?<br />Foi vítima de guerra?<br />Gritamos sem resposta,<br />Ouvindo somente os ecos das montanhas,<br /><br />Riem-se os pastores em redor<br />Cantam pássaros pousados<br />em árvores em flor.<br /><br />Que morreu o mais alto homem da terra<br />Mas ninguém o chora,<br />Por nenhum lado se avista dor.<br /><br /><span style="color:#cc33cc;">O mais alto homem da terra<br />Não passava de um homem.</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-79669173235891055202010-03-09T08:09:00.003+00:002010-03-09T08:13:37.256+00:00(Un)told Prejudices<span style="color:#ff0000;">Foda-se.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Eu.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Foda-se.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Tu.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Foda-se esta cidade</span><br /><span style="color:#ff0000;">e toda a gente nela.</span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="color:#ff0000;">(E o som do piano chega,</span><br /><span style="color:#ff0000;">distante)</span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="color:#ff0000;">Foda-se.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Eu.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Nós.</span><br /><span style="color:#ff0000;">Foda-se esta cidade </span><br /><span style="color:#ff0000;">e todos os fantasmas dela.</span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="color:#ff0000;">Foda-se, Foda-se...</span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="color:#ff0000;">(E o piano calou-se)</span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="color:#ff0000;"></span><br /><span style="font-size:78%;color:#ff0000;">French Teen Idol que não me larga. Foda-se!(este bem podia ser o nome do texto)</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-32550832186843680082010-02-28T18:51:00.004+00:002010-03-06T13:47:27.344+00:00Neotropicalismo<p><object width="445" height="364"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/I19MorTFZV4&hl=pt_BR&fs=1&rel=0&color1=0x402061&color2=0x9461ca&border=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/I19MorTFZV4&hl=pt_BR&fs=1&rel=0&color1=0x402061&color2=0x9461ca&border=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="445" height="364"></embed></object><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;color:#ffccff;">Ainda existe um pouco de Brazil em mim.</span></p><p><span style="font-size:85%;color:#ffccff;"></span></p><p><span style="font-size:78%;color:#ffccff;">Sim, sim, aquele pedacinho quente e feliz,</span></p><p><span style="font-size:78%;color:#6600cc;"><span style="color:#ffccff;">guardado numa caixinha esquecida algures</span>.</span></p><p><span class="Apple-style-span" style="color:#6600CC;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></p><p><span class="Apple-style-span" style="color:#6600CC;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">27 de maio, no coliseu. com grizzly bear.</span></span></p>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-64307759789951305502010-02-28T16:36:00.003+00:002010-02-28T16:44:19.242+00:00Beckett ou A Falta de IdentidadeEla acorda suada a meio da noite, só na escuridão parcial do quarto. Tem um grito preso na garganta e o peito dói-lhe, como se alguém lhe estivesse apertando a grade costal.<br />Vemos a sua silhueta levantando-se da cama de solteiro e movendo-se lentamente pela divisão, aproveitando a pouca luz que entra pela janela da divisão. Observamos o seu corpo sentando-se algures na sombra, confundindo-se com ele.<br />E depois o choro, que começa suave, baixo, as primeiras lágrimas caindo no chão certamente sem alcatifa, com o seu som mudo, tloc, propagando-se pela divisão, ao qual se seguem os soluços, cada vez mais barulhentos e descoordenados, pranto que se vai intensificando à medida que as horas vão passando, até que, com o romper da manhã, cessa, já que as suas forças se esgotaram e ali está ela, no chão e despida, com a cara humedecida e os cabelos desgrenhados.<br />Só muito mais tarde volta a si, o seu corpo aquecido pelos raios fortes do sol que pela janela entram, conquistadores.<br />Esbraceja debilmente e acaba apoiando as mãos delgadas no chão, continuações dos frágeis braços, tão frágeis que quase não parecem humanos, fantasmagóricos. Com força sobre-humana ergue-se neles, rastejando ainda as pernas no soalho frio. Também estas se dobram para se erguerem agora para que possamos vislumbrar, à contraluz de início de tarde toda ela, branca e delgada, pequena, de calcanhares e joelhos salientes, cabelo desgrenhado e preto tapando-lhe o rosto que ainda nos é desconhecido, que para sempre o será, que os seus traços pelas lágrimas foram apagados, sobrando uma massa uniforme de pele onde um dia esteve o seu nariz, os seus olhos, de cor e brilho desconhecidos, ou a boca, sorridente ou apática.<br />Dá agora conta da sua situação, apalpando incessantemente a cara, mulher sem identidade, provavelmente não acredita no que lhe aconteceu.<br />Esbraceja violentamente, desesperada, e o seu corpo é sacudido por convulsões que a derrubam, provavelmente chora.<br />É então que ouvimos um embate seco contra o chão, o seu frágil corpo que cai desamparado após bater nos inúmeros objectos que ocupam a divisão e se vão opondo ao seu movimento, malvados.<br /><br /><br /><span style="font-size:85%;color:#000099;">obrigada, samuel - <span style="font-size:78%;">início de mais um conto</span></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-21266334562107189672009-12-29T23:33:00.002+00:002009-12-29T23:34:24.878+00:00Não há melhor elogio que o plágio<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8JJNEQmm2BKXJ5FD-MTYBtFam9SVApfeD4UAvpMckt6owT5USb2_Jcog79m3iabD4NAke-AMZr6HBPCi57d_IwbGB5H3R23M6F-rsYNqjHTnS_HetiKypd_RQmsxrjfAsIdZqtByy-0s/s1600-h/Bairro.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 281px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420805460312803570" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8JJNEQmm2BKXJ5FD-MTYBtFam9SVApfeD4UAvpMckt6owT5USb2_Jcog79m3iabD4NAke-AMZr6HBPCi57d_IwbGB5H3R23M6F-rsYNqjHTnS_HetiKypd_RQmsxrjfAsIdZqtByy-0s/s400/Bairro.jpg" /></a><br />em breve, num email perto de siScarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-38387284145420861522009-07-19T19:33:00.007+01:002009-08-16T23:46:33.839+01:00Vai-te, 400<em><span style="color:#6600cc;">Encerrado.</span></em><br /><em><span style="color:#6600cc;"></span></em><br /><em></em><span style="color:#6666cc;">Encontramo-nos nos Seios Frontais e não só :)</span><br /><br /><span style="color:#6600cc;"><span style="font-size:78%;"><em>[As Horas e Emilie Simon, Never Fall In Love</em></span> <em>]</em></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-49271939995718491792009-07-16T13:57:00.003+01:002009-07-16T14:02:28.501+01:00O Labirinto de Fauno<span style="font-family:courier new;">Vive sozinho, o fauno, como todas as personagens destas histórias. Tem por companhia as árvores mortas da floresta e está de tal modo habituado a elas que já de madeira se começa a tornar o seu corpo, já folhas nascem das suas mãos ramificadas, flores não que isso seria um acontecimento feliz e isso o fauno não quer, por isso está sozinho.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Rejeita a alegria, este nosso fauno, tem medo de risos e alergia ao toque, excepto quando toca nos pequenos animais que devora ainda vivos, começando pela cabeça, que é retirada vorazmente, deixando um corpo movimentando-se sem coordenação e muito sangue caindo na suja barba do fauno, muito suja de muitas matanças.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Dorme em cima das raízes de um grande carvalho moribundo, do qual já se tornou parte. Dorme não, permitam-me que corrija: repousa o corpo cansado por mais uma presa, que os seus olhos não se fecham, é demasiado perigoso, correria o risco de sonhar e de, pelo sonho, um sorriso aflorar-lhe a face e isso ser-lhe-ia fatal.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Não sabe há quanto tempo não dorme, as datas há muito se perderam nos labirintos que o tempo cria. Apenas se sabe muito velho, mais velho que o próprio tempo ou que o arquitecto que o projectou, metáfora sem sentido apenas nesta sociedade libertina permitida.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Guarda uma velha arca, o nosso fauno, um baú de madeira muito gasta e coberta de folhas mortas e terra, desleixo do guardião. Nunca a abriu, o vigilante silencioso, não especula acerca do que ela encerra, não quer saber, tem apenas por missão protegê-la, até que o tempo leve um deles, sabendo que isso não acontecerá, que ambos lhe sobreviverão, há muito que deixou de esperar o fim, há muito que não espera nada, apenas guarda a caixa de madeira misteriosa, da qual apenas sabe que, quando a Lua se ergue cheia no céu, e se, por algum acaso, algum pedaço do seu apodrecido corpo toca na arca, podemos ouvir, muito debilmente, como que um sussurro fantasmagórico que assombra a noite na morta floresta, um cortante choro de mulher.</span><br /><br /><br /><br /><br /><span style="color: rgb(153, 153, 255);font-family:arial;" >começou</span><span style="color: rgb(153, 153, 255);"> sendo uma personagem de um desenho, como todos, e acabei inventando-lhe vida e missão. um dia uma história. [<span style="font-style: italic;">Living Together</span>, Circa Survive & Panda Bear]<br /></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-3841832792028067482009-07-15T21:38:00.003+01:002009-07-15T21:52:31.754+01:00Fleur de Saison<span style="color: rgb(255, 204, 204);font-family:lucida grande;" >Queria forrar o quarto com os meus desenhos e a tua poesia, o meu traço e a tua alma, para me sentir em casa quando a ela chegasse, ainda que uma vez de mês a mês. Queria não deixar um só espaço livre deles, fora o quadro da audrey que guardo com carinho, boneca de luxo e musa minha, ou os desenhos que estraguei em telas. </span><br /><span style="color: rgb(255, 204, 204);font-family:lucida grande;" >Para a semana pintá-lo-ão, não coles coisas na parede, diz a mãe. E eu obedeço, pensando que o laranja de outros tempos já não me serve, já não adere à minha pele, sedenta de tons mais escuros. Por isso não te expus na parede ao lado da secretária, em frente ao retrato da audrey ou por cima da cama baixa, guardei-te antes numa gaveta da secretária de madeira escura, juntamente com as dezenas de desenhos antigos de seres definhados que arranco do caderno, esperando que definhes com eles, com as dezenas de traços mal delineados com que ocupo horas que deviam ser de estudo ou de convivência com quem me ama mas que são passados comigo mesma, nessa necessidade de me ocupar de mim o tempo todo. </span><br /><span style="color: rgb(255, 204, 204);font-family:lucida grande;" >Para a semana o meu quarto estará bordeaux, quase cor de sangue, para combinar com o abandono a que foi deixado, aos livros já lidos que se acumulam na secretária, aos vestidos pretos que são deixados de forma anárquica no cadeirão e à alma minha que sangra sem razão.</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-57624889855146376792009-07-12T16:41:00.001+01:002009-07-12T16:41:55.377+01:00Pessoa RevisitadoAs cartas de amor são ridículas,<br />Como ridículos são<br />Todos os amores que as tiveram<br />Como destino….<br />E, sentimentos passados, eis-me<br />Folheando-as, sentindo odor<br />Das cartas que ninguém leu<br />Promessas de amor<br />Cujo único leitor era eu…<br />Vergonha escrita<br />A tinta preta e folhas soltas.<br /><br />A vida é uma sucessão de cartas de amor,<br />É isso que a faz tão ridícula…Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-85838713834958362282009-07-12T16:05:00.002+01:002009-07-12T16:06:19.679+01:00AgoniaÉ grande e disforme a Agonia, com o seu cabelo desgrenhado e os lábios carnudos. Tem ancas largas, ancas de quem já pariu o desespero. É nojenta na sua nudez, uma nudez suja sem ser lasciva, de modo algum sensual, com pregas de gordura a flanquear-lhe as costas.<br />Assassina silenciosa, faz do crime profissão, desgraçada e venenosa que me matas silenciosamente, sem saber quem te chamou.Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-64106616747746685042009-07-11T15:44:00.007+01:002009-07-15T21:57:48.500+01:00Volta, Vian<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CUsers%5CAcer%5CAppData%5CLocal%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CUsers%5CAcer%5CAppData%5CLocal%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" 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Fim de nada, que nada houve senão nós, que ainda não acabámos, como comprovo quando dou a mão ao fantasma que és, do qual nunca passaste, espectro que criei numa procura alimentada pelo devaneio de alma que sou. </p> <p class="MsoNormal">Ainda assim é o fim, caro amigo, doce amigo, fim da história que nunca ninguém cantará, que ninguém dela sabe senão nós, que não cantamos coisas que não existiram. </p> <p class="MsoNormal">O tempo acabou. Lembras-te do início? Não?, então bebamos, criemos a memória do inicio que não houve. [ou bebamos para esquecer que o houve.]</p> <p class="MsoNormal">Abres a porta e vais-te, magoado, mudo, deixas-me sozinha com a saudade que não é mais que memória de nada personificada em dor. </p> <p class="MsoNormal">E limpo as lágrimas ao meu vestido negro, sempre negro, esperando o teu regresso que não chega, enquanto a memória se desvanece e o teu nome é esquecido.</p> <p class="MsoNormal">[Não, não me movo, não te procuro, não te segurarei mais nos braços, é o fim.]</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal"><span style="color: rgb(102, 0, 204);">Sibylle Bayer e Sylvia Plath, deusas minhas.</span>
<br /></p> Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-78874781055122360282009-07-10T22:27:00.010+01:002009-07-12T16:07:39.914+01:00Afinal existia outra Catequista"Nome: D. <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Galateia</span> Prazeres dos Anjos<br />Data de Nascimento: 23.12.1945<br /><br /><span style="color: rgb(153, 153, 255);">Breve Descrição:</span><br />Pega espiritual, <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_1">distribuía</span> amor pelos espíritos, pois também as almas a este mundo agarradas precisam de amor, dizia.<br />Idosa, romântica, iniciou-se na má vida espiritual devido à morte do noivo, que desde então procurou sem sucesso, acabando por não resistir aos encantos das muitas almas que vagueiam pelo submundo.<br /><br />Nasce no Porto, filha de um professor de Literatura e de uma doméstica, sendo, graças à influência paterna, viciada em misticismo.<br />Tem uma figura alta e seca, cabelos grisalhos, longos e lisos, sempre apanhados, olhos doces e boca encarnada de virgem."<br /><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(102, 255, 255);">Mais um heterónimo, o que escrevia textos e poesia erótica, mais um disparate de tarde de secundário, para compensar a falta de tempo para escrever.<br /><br /></span><div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaGn0Y-F8o4md-PbotXDp6lFWoy-Dohc7oq-_l8FBVKoS7eXDOQ9GDMO4sMAXkEzdpyT6L99s_f2JJBNp6MZfvXia0PMYDgy5_DgvEQsltsm0ZI4OESpB3PDYTtNlUHo3oSBLZTpY94hU/s1600-h/P1010083.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaGn0Y-F8o4md-PbotXDp6lFWoy-Dohc7oq-_l8FBVKoS7eXDOQ9GDMO4sMAXkEzdpyT6L99s_f2JJBNp6MZfvXia0PMYDgy5_DgvEQsltsm0ZI4OESpB3PDYTtNlUHo3oSBLZTpY94hU/s200/P1010083.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356952981461750146" border="0" /></a></div><span style="font-style: italic; color: rgb(102, 255, 255);"><br /></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-10077226603262163612009-07-02T03:00:00.010+01:002009-07-12T16:08:46.718+01:0023 de Novembro de 2007, dia Triunfal"nome: Yoseph Alexandrovitch Ivanov<br />Local de nascimento: Leninegrado<br />Data de nascimento: 15-07-1967<br />Habilitações:Licenciatura em Literatura e Filologia Eslava<br /><br />Breve Biografia:<br />O pai é enviado para um campo de trabalho na Sibéria, nunca mais dele sabendo. É criado pela mãe, mulher severa, que marca a sua personalidade e trajecto futuro.<br />Tem a primeira cópula aos 13 anos, com a namorada que lhe dura até aos 20, altura em que conhece Nicolai Constantinovich Karkov, pianista no conservatório de S. Petersburgo, pelo qual se apaixona perdidamente, vivendo uma curta e intensa relação, que termina após diversas traições de Nicolai.<br />Após este acontecimento entra numa fase decandentista.<br />Encontra então Igor, engenheiro naval, tendo a relação terminado só aquando da morte trágica deste.<br />Emigra, desiludido, para Portugal, fixando-se no Alentejo e dedicando-se ao trabalho agrícola. Graças à vantagem intelectual que leva sobre os portugueses depressa se torna dono da própria quinta, podendo então dedicar-se à criação literária, libertando a sua homossexualidade publicamente reprimida e as desilusões amorosas."<br /><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(153, 255, 255);">Encontrei a minha agenda de secundário [aquela que me gozaste por ter usado duas vezes o ano inteiro] e vi-me perante um ano mais recheado do que imaginava. Biografia disparatada nela contida, de um heterónimo que pouca poesia escreveu, escrita a duas mãos por Van Van e João Edral[Jojoco meu], tentando matar o tédio, numa qualquer tarde de novembro, no Shiva.</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-17419490670452033742009-07-01T13:54:00.006+01:002009-07-12T16:26:59.816+01:00Bring Me The Horizon<span style="font-style: italic;">escrevendo O Evangelho segundo a Catequista, prólogo da Virgem [sim, é um aviso], texto da Semi-Puta, a ser lido numa noite de fim de exames e deus Baco.<br /><br /><br /><span style="color: rgb(255, 102, 102);">The Sadness will never end</span></span><span style="color: rgb(255, 102, 102);">, com Andrei Machado e os seus Abismos pelo meio.</span><br /><br /><br /><br /><span style="color: rgb(204, 204, 204);">hallelujah</span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-16085984117483015052009-07-01T00:49:00.005+01:002009-08-16T18:20:56.033+01:00On Letting GoEla é uma rapariga partida e vive sozinha numa casa feita de espelhos. Os seus cacos misturam-se com os cacos dos espelhos, formando amontoados cortantes que nunca ninguém varre pois só ela habita a casa.<br />Quando acorda somente vê ela, ainda mais partida nos degradados espelhos que revestem o pequeno quarto em que todas as noites entra para sonhar com o vazio.<br />O seu vestido é vermelho, tingido pelo muito sangue que jorra ao cortar-se com os seus próprios cacos, fragmentos da jarra delicada que foi um dia, numa mesa de sonho colocada, até tropeçar a cair no chão duro da realidade, ausente de tapetes ou alcatifas.<br />Não, ela nem sempre foi uma rapariga perdida, como nem sempre viveu numa pequena casa de vidros com um quarto de pesadelos mas agora só isso e os amontoados de cacos cortantes lhe restam, como se ela e os espelhos partidos fossem um, pequenos fragmentos da mesma peça.<br />Vive rodeada por si, a rapariga partida, com as suas mil facetas reflectidas nos mil espelhos que a cercam, cada dia todos um pouco mais fragmentados, eles e ela, à espera do dia em que não passarão de um amontoado de cacos no meio do nada.<br />Não mora na cidade, a rapariga, onde não há fragmentos mas espectros de vidas adiadas. A vida dela não foi adiada, apenas se perdeu, como quem perde um brinco ou uma caneta, deixando o fragmento de pessoa que é.<br />Não tem sonhos ou brilho no olhar, e já não a luz se reflecte nos espelhos embaciados da sua casa pela manhã. Não aguarda um rapaz igualmente partido, os seus fragmentos já não encaixam com os de ninguém, vai simplesmente resistindo a dias de vazio e de ela própria, ansiando por uma libertação que não chega, que os seus olhos são de vidro e não reflectem o sol.<br /><br /><br /><br /><br />Uma música há muito perdida dos Radiohead sobre uma rapariga que vive com um homem partido, na ressaca de anatomia, reescrita ao som de Placebo e Circa Survive, deuses!Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-50530178495182297032009-06-30T21:03:00.007+01:002009-07-12T16:11:58.984+01:00Ugolina<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" 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Tê-la-á descido muitas vezes, noutras histórias, mas essas foram outras Ugolinas e outros tempos, ainda que estas sejam iguais ao canídeo prenho, de patas magras e pulguento que aqui vemos, caminhando languidamente.</p> <p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal">Pára e morde o ventre, pensando já nas crias que dentro de dias parirá para devorar em seguida, como o fez com todas as ninhadas que antecederam a que agora transporta.</p> <p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal">Não julguemos a cadela infanticida ou a maneira de se alimentar, quase criação em viveiro dentro da própria, fornicando para se alimentar, prostituta no mundo dos canídeos, por isto já é Ugolina odiada, por esta diferença, por comer o que o seu ventre dá, como teriam pena se tivesse três pernas ou lhe afagariam o pêlo se este fosse mais macio ou se fosse um animal bonito. Mas não é bela, ou possui pêlo macio, muito menos três patas, não podendo, por isso, ser amada, limitando-se a encher a barriga com o próprio sangue, animal sem alma, que carinho para lhe encher o peito não tem. Não o tem como não o tiveram nem terão as suas crias, esventradas ainda cegas e indefesas, sem tempo para lhe chegarem ao peito, consumidas até às pequenas cartilagens pela fome materna.</p><p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal">
<br /></p><p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal">
<br /></p><p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal">
<br /></p> <p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-family: georgia;" class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-style: italic; color: rgb(153, 255, 153); font-family: georgia;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;">Personagem de “O Ano da Morte de Ricardo Reis, de J. Saramago, inspirada pelo “Livro do Desassossego”, Metric e a minha Babixe, linda ainda nos seus dezoito anos.</span></p> Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-65296454965043582382009-06-27T12:12:00.009+01:002009-07-12T16:12:21.671+01:00Before SunrisePerdida entre AB FAB e Satie. [e a inesperada karen dalton a meio do filme]<br /><br /><br />deus!, e as saudades da Ikunnaprinsessa! [Com Safo, com Safo, que a cada encontro te necessito mais, <span style="color: rgb(255, 255, 153);">abelha rainha</span>, musa dos primórdios]<br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">[Ainda não nos desfizemos, como o espelho que caiu e se desfez em mil pedaços. Apenas deambulamos perdidos e afastados neste mundo de sombras.<br />Abraço há muito adiado ao Banana que em breve me espera, salvemo-nos, salvando-te da perdição]<br /><br /><span style="color: rgb(153, 153, 255);">Ámen</span><br /></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-83527017256814544722009-06-26T12:10:00.002+01:002009-07-12T16:12:52.926+01:00MagnóliaTenho frio, muito frio, como fria está ela agora. Morreu, murchou como uma flor na primeira semana de vida. Abraço o seu pequeno corpo sem vida, envolto em panos, fruto de um amor que com ela será sepultado. Num pequeno caixão de madeira, arca que guardará para a eternidade o tesouro que dias antes me alegrava as manhãs e agora me dilacera a alma.<br />O seu corpo é mole, cartilagíneo, que se desconfigura conforme o aperto, com força, contra o meu corpo molhado, como se fosse deixando de ser minha para ser de outrem, cada vez mais de outrem. [E a água ainda corre, ainda ouço os pequenos membros movendo em desespero, a campainha tocando]<br />Está azul, tão longe do tom rosado da sua cara sorridente, tão pouco minha. Não tinha nome ainda, amor de sua mãe, talvez, ou meu bem, mais nenhum. Chamar-se-ia Mariana ou Carolina, ou nomes bonitos que combinariam com a criança bonita que seria, mulher de beleza amena de quem me orgulharia um dia. Mas não, esse tempo em potência não mais existe, como ela.<br />Tenho frio, tenho muito frio, aperto-a contra mim, enquanto mergulho na mesma água que ma roubou, tentando resgatá-la. Inspiro, fundo, para nada, que em breve os meus pulmões vão-se inundando…<br />E então vejo-a, cresceu, é bela, fruto de amor, nariz do pai, o resto meu. Abraço-a, neste e no outro mundo. E o frio desaparece.<br /><br /><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(102, 0, 204);"><span style="color: rgb(204, 204, 255);">Magnolia e This Will Destroy You</span><br /></span>Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-16309083002212531.post-85602170281853991672009-06-20T12:15:00.005+01:002009-07-12T16:13:13.021+01:00Eros e PsyqueE vejo-te nua e suada em cima da cama, casta na tua pouca-vergonha de Vénus amada, enquanto o suor que o amor te deixou deixa devagar o teu delgado corpo. Delgado como o de uma adolescente, que domino todas as noites e todas as manhãs que adormecemos e acordamos, nus e enlaçados, a um ponto em que não se distingue quando começas tu e acabo eu, mesmo não estando eu dentro de ti. E talvez nem exista o fim de um e o início do outro, de tão sepultado em ti que estou, talvez já sejamos a mesma pessoa, e não seja o teu odor que se entranha em mim e me sufoca prazerosamente mas simplesmente o meu odor que já é o teu, ou vice-versa, e eu seja um narciso dependente de mim mesmo, viciado em mim mesmo, nesta masturbação que envolve dois corpos mas só uma pessoa. <br />Moves-te, lentamente, nessa malícia de menina preguiçosa que no fundo és. Ou talvez sejas já uma mulher e seja eu que estou demasiado velho para o notar. Voltando a ti – não volto sempre? -, aí estás, alva e delicada, criança caprichosa que me domina, que me devora a alma que não tenho. <br />Beijo-te o pé, a púbis, a testa, senhora, amante e criança que és. Não, não és apenas o divertimento de um homem velho, apesar de tu mesma o julgares. Não me fazes sentir mais novo, pelo contrário: envelheces-me quatro vezes mais depressa, e tenho já 120 e não quarenta anos, como quando me conheceste - quando terá isso acontecido?Scarlet Empresshttp://www.blogger.com/profile/01440517525355895808noreply@blogger.com4